Thursday, January 25, 2007

O Sim e o Não


"Cada vez mais queremos certezas, cada vez mais queremos respostas. Quando procuramos um sim ou um não experimentamos. Queremos saber se a gravidade existe, vamos a uma janela, atiramos um objecto, se este cair: "sim a gravidade existe!", se este ficar suspenso: "não, a gravidade não existe!". Queremos saber se um CD é lido por uma aparelhagem de maneira a poder ser ouvido, basta colocá-lo na aparelhagem e obtemos a resposta! É a era do método experimental... Temos a problemática, temos a teoria, os meios, o procedimento, e temos um fim, um objectivo, um sim ou um não! Até na arte que se diz subjectiva, o que não falta é objectividade. Acredito que seja assim devido à maneira que ela é-nos conduzida desde novos, na escola somos sempre direccionados para um único tipo de interpretação, o que limita em muito a visão da mesma. Mas, acima de tudo, ou gostamos dela ou não, ou concordamos com ela ou não. Sim ou Não. Mestres do pensamento moderno e contemporâneo no entanto dizem, escrevem e estabelecem que não há verdades absolutas, que não há coisas certas ou erradas, que o que se passa num momento pode não se passar noutro, que o que acontece num local pode não acontecer noutro. Empurram-nos para o meio termo, para o subjectivo, para a indecisão, para o Talvez. Dizem que o Homem é um ser naturalmente subjectivo, pois tem a capacidade de sentir, de amar, de odiar, de construir e de destruir. Há séculos atrás, o pouco conhecimento fazia-nos gigantes... Colocáva-nos no centro do Sistema Solar e do Universo. Hoje em dia, por cada descoberta que fazemos, mais insignificantes ficamos, pois apercebemo-nos que somos infinitamente pequenos. Mundo inversamente proporcional este onde vivemos. Afinal queremos ser grandes ou pequenos? Queremos respostas ou perguntas? Queremos certezas ou dúvidas? Queremos ser conformistas ou exploradores? Do Caos se faz a Ordem, e é por haver dualidades, lados e pólos que evoluímos, mas que também retrocedemos, pois ordem é equilíbrio e este é um pêndulo que vai para a frente e para trás, e a evolução paga-se com o retrocesso, e este combate-se com a evolução. Afinal de contas, em que ficamos? No objectivo, ou no subjectivo? No sim ou não ou no Talvez? O próprio cerébro do Homem é dividido em dois hemisférios, um responsável pelo lógico, outro pelo abstracto. Cabe-nos a nós ser os Mestres do Pensamento e decidir se ficamos pela fisiologia ou se conseguimos ir mais longe."

in "Talvez te invente";
D. Gonçalo